ORA ET LABORA

ORA ET LABORA
História da vida monástica beneditina na sala capitular de S. Bento de Singeverga da autoria de Claudio Pastro// History of Benedictine monastic life in the Chapter Hall of St. Benedict Singeverga// Geschichte des Benediktiner-monastische Leben in den Kapitelsaal der St. Benedikt von Singeverga

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O monge e o mundo

Um mosteiro não é nem um museu, nem um asilo. O monge permanece no mundo que abandonou. Para além de todas as tarefas que poderão ser, por si, executadas, age sobre o mundo pelo simples facto de ser monge.

Entretanto o monge é tradicionalmente alguém que deixa o mundo, foge da companhia dos outros homens e procura encontrar-se com Deus, vivendo na solidão. Não se arrisca ele, por isso, a perder todo o contacto com a realidade e a privar-se da união vital com os seus irmãos em Cristo? Não será, então, a vida monástica uma fuga para a esterelidade, um evadir-se de toda a responsabilidade de viver? Não diminui ela, completamente, e restringe a vida do homem, ao ponto de este cessar de viver, passando os dias a vegetar, vítima de piedosa ilusão?



Deve-se admitir que a toda a vocação correspondem os riscos profissionais, e o monge que perde o sentido da sua vocação monástica poderá bem desperdiçar a vida numa estéril preocupação de si próprio. Mas devemos precisamente procurar a razão dessa 'fuga' do mundo que o monge efectua, no facto de que o 'mundo' (aquele que Jesus condenou) é a sociedade daqueles que vivem exclusivamente para si. Deixar o 'mundo' significa, portanto, em primeiro lugar, deixar-se a si mesmo e começar a viver para os outros. O mosteiro tem por finalidade criar o ambiente favorável a este esquecimento próprio (que não é - de todo - a extinção da responsabilidade de cuidar de si mesmo). Se alguns monges, porém, utilizam mal esta oportunidade que lhes é dada e se tornam egoístas é porque fisicamente deixaram o 'mundo' trazendo contudo, nos seus corações, o espírito mundano para o mosteiro.



Diante de Deus, diante dos homens, diante do espírito mundano, seu antagonísta, está o monge carregado de tremenda responsabilidade, a responsabilidade de continuar a ser aquilo que o seu nome significa: um indiviso, um homem de Deus. Não apenas alguém que abandonou o mundo, mas alguém capaz de testemunhar e representar Deus neste mundo que o Filho de Deus salvou pela morte na Cruz.



(Do livro: A vida silenciosa (adaptado) de fr. Thomas Merton, OCSO)

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