ORA ET LABORA

ORA ET LABORA
História da vida monástica beneditina na sala capitular de S. Bento de Singeverga da autoria de Claudio Pastro// History of Benedictine monastic life in the Chapter Hall of St. Benedict Singeverga// Geschichte des Benediktiner-monastische Leben in den Kapitelsaal der St. Benedikt von Singeverga

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A cor do corvo

Os discípulos de um velho abade estavam confiantes das suas habilidades para discutir os mais variados assuntos. Ele percebeu então que eles se estavam tornando arrogantes e tentavam, cada um deles, mostrar mais sabedoria que os demais. Então chamou-os para uma discussão e perguntou:

-- Por que o corvo é da cor do carvão?

Cada um deles deu uma explicação. Alguns apelaram para os seus conhecimentos em biologia e física. Outros, se utilizaram da filosofia. Outros, ainda, usaram a mitologia.
O abade apenas ouviu e ficou em silêncio. Então um dos discípulos perguntou:

-- Qual das respostas é a melhor?

-- Vocês demonstraram que possuem grandes conhecimentos, mas ninguém deu a resposta que eu queria ouvir.

-- E qual é essa resposta?

-- O corvo é da cor do carvão porque ele é preto.

A Diversão do Monge

Um camponês, indo para a taverna encontra-se com um monge:


C-- Eu acho louvável a vida de um monge, mas às vezes eu penso que deve ser muito difícil viver no mosteiro sem nenhuma diversão.

M-- Diga-me então como faço para me divertir.

C-- Não basta dizer. Seria bom se o senhor me pudesse acompanhar, mas creio que não conseguirá entrar no ambiente impuro de uma taverna.

M-- Não se preocupe, eu o acompanharei.


Os dois foram então à taverna. Ao entrar, houve um constrangimento geral. O monge sentou-se no lugar que o camponês indicou, numa mesa com vários amigos seus. O monge, percebendo o constrangimento, disse:

-- Façam de conta que não estou aqui.


Pouco a pouco, as conversas começaram e logo o ambiente voltou à sua normalidade. Todos bebendo, rindo e conversando. O monge começou então a participar das conversas, a rir das piadas, mesmo das que faziam referências aos monges e à sua vida frugal do mosteiro. Por fim ele mesmo contou algumas anedotas de monges.
Ao cair da noite, o camponês, a caminho de casa, disse:

-- Irmão, o senhor surpreendeu-me. Não pensei que soubesse como se divertir.

O monge respondeu:

-- No templo eu oro, na taverna eu me divirto.
Não é isto que faz o homem comum?
Então, o homem comum é um monge.

(Autor anónimo)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O monge e o mundo

Um mosteiro não é nem um museu, nem um asilo. O monge permanece no mundo que abandonou. Para além de todas as tarefas que poderão ser, por si, executadas, age sobre o mundo pelo simples facto de ser monge.

Entretanto o monge é tradicionalmente alguém que deixa o mundo, foge da companhia dos outros homens e procura encontrar-se com Deus, vivendo na solidão. Não se arrisca ele, por isso, a perder todo o contacto com a realidade e a privar-se da união vital com os seus irmãos em Cristo? Não será, então, a vida monástica uma fuga para a esterelidade, um evadir-se de toda a responsabilidade de viver? Não diminui ela, completamente, e restringe a vida do homem, ao ponto de este cessar de viver, passando os dias a vegetar, vítima de piedosa ilusão?



Deve-se admitir que a toda a vocação correspondem os riscos profissionais, e o monge que perde o sentido da sua vocação monástica poderá bem desperdiçar a vida numa estéril preocupação de si próprio. Mas devemos precisamente procurar a razão dessa 'fuga' do mundo que o monge efectua, no facto de que o 'mundo' (aquele que Jesus condenou) é a sociedade daqueles que vivem exclusivamente para si. Deixar o 'mundo' significa, portanto, em primeiro lugar, deixar-se a si mesmo e começar a viver para os outros. O mosteiro tem por finalidade criar o ambiente favorável a este esquecimento próprio (que não é - de todo - a extinção da responsabilidade de cuidar de si mesmo). Se alguns monges, porém, utilizam mal esta oportunidade que lhes é dada e se tornam egoístas é porque fisicamente deixaram o 'mundo' trazendo contudo, nos seus corações, o espírito mundano para o mosteiro.



Diante de Deus, diante dos homens, diante do espírito mundano, seu antagonísta, está o monge carregado de tremenda responsabilidade, a responsabilidade de continuar a ser aquilo que o seu nome significa: um indiviso, um homem de Deus. Não apenas alguém que abandonou o mundo, mas alguém capaz de testemunhar e representar Deus neste mundo que o Filho de Deus salvou pela morte na Cruz.



(Do livro: A vida silenciosa (adaptado) de fr. Thomas Merton, OCSO)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A virtude do silêncio


Façamos o que diz o Profeta: «Disse eu: vigiarei os meus caminhos para não pecar com a língua; pus guardas à minha boca, emudeci, humilhei-me e abstive-me de falar mesmo de coisas boas» (Sl 38, 2-3). Nisto mostra o Profeta que, se devemos algumas vezes abster-nos até de conversa boas, por amor do silêncio, quanto mais não devemos evitar as palavras más...
Por conseguinte, dada a importância da virtude do silêncio, raras vezes se conceda aos discípulos, ainda que perfeitos, licença para falar, embora de coisas boas, santas e de edificação , pois está escrito: «Falando muito, não evitarás o pecado» (Pr 10, 19); e noutro lugar: «A morte e a vida estão em poder da língua» (Pr 18, 21)...
(Do cap. IV da Regra do Patriarca Bento)

domingo, 13 de setembro de 2009

A vida monástica; caminho sem "buracos"?!



Um jovem monge que residia nas Célias perturbava-se na sua solidão. Foi pois procurar o Abade Teodoro de Ferma, e referiu-lhe isto. O ancião respondeu: «vai, humilha a tua mente, sê submisso e vai para junto dos outros». Passado algum tempo, o jovem voltou a procurar o ansião e disse-lhe: «nem junto dos homens tenho sossego». Perguntou o ansião: «se nem na solidão nem na convivência com os outros encontras sossego, porque saíste de casa para abraçar a vida monástica? Não foi para suportar as tribulações? Diz-me agora: há quanto tempo trazes o hábito?» Respondeu o irmão: «há oito anos». Continuou o ansião: «em verdade, tenho setenta anos de hábito, e ainda não encontrei repouso um só dia; e tu, depois de oito anos, queres ter sossego?» Tendo ouvido isto, o jovem monge, fortalecido, voltou para a sua cela.





(De um antigo apoftegma monástico)