ORA ET LABORA

ORA ET LABORA
História da vida monástica beneditina na sala capitular de S. Bento de Singeverga da autoria de Claudio Pastro// History of Benedictine monastic life in the Chapter Hall of St. Benedict Singeverga// Geschichte des Benediktiner-monastische Leben in den Kapitelsaal der St. Benedikt von Singeverga

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Versão contemporânea do Magnificat por monges beneditinos:

Espírito e organização de um mosteiro beneditino:


PAX


O mosteiro, que é concebido pela Regra dos Monges (mais conhecida como Regra de S. Bento), tem o carácter de uma família, fortalecida pelo voto particular da estabilidade. O pai, mestre e cabeça não é o abade, de quem dependem todos os monges, envolvidos em vários ofícios; mas o próprio abade está sujeito à regra, da qual é discípulo e, em certa medida, intérprete. O tratamento das matérias e dos assuntos temporais, sempre sob a sua vigilância, é confiada ao celeireiro ou tesoureiro. Outros oficiais são designados: para a hospedaria, enfermaria, portaria, a formação de noviços, etc.

Cada candidato à vida monástica atravessa um ano de estágio (a que chamamos postulantado); e se depois de madura e livre ponderação escolher este estado de vida, e a comunidade o consentir, é acolhido no seio da família monástica, onde vai encontrar as condições necessárias para um caminho de união com Deus, no tempo e na eternidade. No mosteiro, muito bem apelidado "casa de Deus" (RB 31,19), tudo deve fluir em determinada ordem: cada um tem o seu lugar bem definido, tudo deve estar no seu tempo e lugar, para que ninguém nesta casa, seja incomodado ou entristecido e para que "todos os membros estejam em paz"(RB 34,5).

A vida comunitária desenvolve-se numa alternância sábia e pacífica entre oração litúrgica e particular, de trabalho intelectual e manual. O programa é, com sucesso, sintetizado, por volta do séc. X, no lema "ora et labora": reza e trabalha.

É geralmente reconhecida a contribuição característica dos discípulos de S. Bento para o culto litúrgico, que sempre procuraram guardar com especial esplendor e dignidade, bem como os estudos, a valorização da agricultura, as artes plásticas e os trabalhos manuais. Mas todo o ordenamento disposto pela regra, como é óbvio, tem como objectivo treinar os monges para a santidade. Na vida de fé e humildade, reconhecem que o abade está agindo no lugar de Cristo. Daí a fundamental e alegre virtude da obediência. Para seguir a Cristo, eles são libertados das preocupações dos bens terrenos, através da pobreza, e consagram-se totalmente ao amor de Deus pela castidade, enquanto na comunhão de vida com os irmãos aproveitam, em cada momento, as ocasiões para fazer florescer a caridade.

Tudo isto S. Bento o ensina e dispõe com sabedoria romana e amor cristão. Se condena o defeito e a desordem e os corrige severamente, seguindo os sistemas rígidos de então, por outro lado sabe compadecer-se das fraquezas do espírito e das enfermidades físicas; incita à ascensão generosa das virtudes, mas também considera a fragilidade da natureza humana; exige o que é necessário para a perfeição, principalmente nas disposições interiores, mas indulta no acessório, especialmente no consumo de alimentos, bebidas, roupas; exige obediência absoluta e pronta, mas tem em conta as dificuldades que esta pode encontrar; odeia a murmuração, mas recomenda que o abade não dê motivo para tal com pedidos excessivos.

Estes e outros aspectos demonstram aquela notável virtude da discrição que o mesmo S. Gregorio Magno assinala como característica da nossa Regra, definindo-a como "discretione praecipuam": admirável pela discrição, que S. Bento chama de "mãe das virtudes". Como é evidente, muitas das prescrições sobre a prática e a disciplina do mosteiro referem-se a costumes, leis, enfim… ao "habitat" do século VI, e o leitor hodierno deverá considerar que a evolução dos tempos, o desenvolvimento da educação privada e social, a legislação eclesiástica e civil, e outros factores têm contribuído para alterar ou apagar muitos detalhes da vida organizada: coisas como o sistema de dormitório, lavar os pés aos hóspedes, a punição com castigos corporais ou com a excomunhão regular, a admissão das crianças aos votos monásticos, etc. são os traços caducos e, por isso, reformáveis de toda a legislação e não é nenhuma surpresa que, depois de quinze séculos, realmente tenham caído ou mudado para se adaptar às condições do ambiente histórico.

O que continua a ser vital, e, sobretudo nos nossos dias, válido, é o espírito, a directriz, o substrato substancial que determinou a estrutura da Regra: e isso permanece tão sólido, abrangente, racional e equilibrado, que o grande Bossuet, nas suas Oeuvres oratoires, não hesitou em dizer: "Nesta Regra beneditina a prudência une-se à simplicidade, a humildade cristã associa-se à coragem generosa, a doçura tempera a severidade e a santa liberdade enobrece a necessária obediência. Nessa, a correcção mantém o seu vigor, mas a indulgência e a bondade a adornam com suavidade; os preceitos conservam toda a sua firmeza, mas a obediência dá repouso ao espírito e paz às almas; o silêncio impõe-se pela sua gravidade, mas a conversação deixa-se embelezar por uma amável graça; e, finalmente, o exercício da autoridade não é desprovido de força, mas a fraqueza não carece de apoio"(ed. J. Lebarq, Paris, 1921, IV, p. 630). Não é de admirar que a fusão feliz da sabedoria humana e sobrenatural tenha produzido durante muitos séculos e até hoje os mais felizes frutos de cultura, de ciência, de arte, de progresso civilizacional e, sobretudo, de santidade.

A regra que S. Bento diz ser "para principiantes" (RB 73,8) tem gerado fileiras densas de santos para os dias de hoje: basta pensar no grande Agostinho de Cantuária, Beda, Bonifácio, Hugo, Pedro Damião, Anselmo, Estevão Harding, Bernardo, Gertrudes, Matilda, Hildegarda, Gregório VII e, mais recentemente, os bem-aventurados Columba Marmion, Plácido Riccardi, Fortunata Viti, os cardeais Dusmet e Schuster etc.


Um monge


UIOGD

segunda-feira, 17 de maio de 2010

"Convertei-vos e acreditai no Evangelho"


PAX


Na sua visita apostólica aos cristãos católicos em Portugal, o Papa Bento XVI escreveu no Livro de Honra do Santuário de Fátima estas palavras: "Convertei-vos e acreditai no Evangelho" (Mc 1, 15). Estas palavras, proferidas por Jesus logo no início do seu ministério na Galileia, não pretendiam infundir o temor, nem desencorajar aqueles que o ouviam, mas levar alento e uma "melodia" de esperança a um mundo cravejado de injustiças e misérias humanas.


Como nos tempos de Jesus, coexistem hoje bem perto de nós (e, talvez, dentro de nós), situações de «não-vida» e de «não-dignidade» humana autêntica; e tal como nos tempos de Jesus, necessitamos de palavras de estímulo e de esperança para consolar os tristes e dar alento aos que choram.


Ao acedermos ao convite de Jesus sabemos que estamos a encontrar a Verdade, e, no entanto, ainda só estamos no início do caminho para ir ao seu encontro. O que Jesus nos pede é isso mesmo: que colaboremos com a Verdade para que, assim, façamos parte dela. E o que é a Verdade, senão o Amor que Ele derramou na Cruz, e do qual, espera, sejamos nós, agora, os transmissores? Caritas et Veritas (caridade e verdade) são, portanto, duas faces de uma mesma moeda, as quais constituem o ponto de partida do ministério de Pedro, sempre em analogia com o ministério de Jesus.



Obrigado, Santo Padre, pela feliz esperança que infundistes nos corações dos vossos irmãos, em Portugal!


UIOGD