Nos dias que correm há uma tendência muito generalizada de fazer com que determinadas informações e certas correntes de pensamento se queiram apresentar de tal maneira absolutas e inquestionáveis que passam como que a constituir um autêntico perigo para a liberdade de manifestação da consciência e do pensamento de cada qual. No estilo de autênticas ditaduras, estas correntes aprisionam e negam a realidade mais sagrada no ser humano: a sua consciência, o direito a ser tratado/a como pessoa, que, essencialmente e realmente, cada um de nós é.
Contra a tendência de toda a repressão da consciência humana, por parte de certas doutrinas (algumas dentro do próprio contexto sociológico dito: cristão), já se debatiam os Padres da Igreja (ou seja aqueles Cristãos dos primeiros séculos que testemunharam e viveram heroicamente O Evangelho), a partir do que lhes fora transmitido pelos próprios Apóstolos [ou seus discípulos] acerca de Jesus, pois aperceberam-se bastante cedo que cada ser humano é tocado [se quiser] pela graça divina através da acção do Espírito Santo e que, portanto, não havia lugar para imposições de ideias; a única forma de anunciar a Verdade era (e ainda é) vive-la. É, na verdade, a partir dos Padres da Igreja que o Cristianismo passa a ser conhecido no Ocidente, depois do martírio de quase todos os Apóstolos. Não foi fácil para os Padres dar testemunho da ressurreição de Cristo - realidade totalmente inconcebível para a mentalidade grega que vigorava no contexto do Império Romano. Mas no meio das adversidades, os Padres aperceberam-se que a riqueza que tinham recebido ao tornarem-se Cristãos passava os limites do imaginável, e que não podiam guardar para si a Boa Notícia que lhes fora anunciada: Deus, O Criador, não abandonou o Seu povo (a Humanidade) e a prova era que Ele próprio tinha assumido a natureza humana (ou seja, a nossa fraqueza e os nossos limites, mas também as nossas alegrias e as nossas manifestações culturais). Isto ficou claro para os primeiros Padres; significava que agora todos os horrores, todos os ódios e sofrimentos humanos não constituiriam a última palavra, pois Deus acabara de dizer, por meio da Cruz, que nada acaba ali; não é numa cruz ou num sepulcro que o Cristão deve deter o seu olhar, senão na Ressurreição de Cristo. A verdade, no entanto, é muito mais profunda: Deus, com todos estes sinais, quis que percebessemos, de uma vez por todas, que estamos "destinados" à plena comunhão com Ele. Ora, isto sim: é a revelação mais radical - ou se quisermos - mais revolucionária que alguma vez surgiu na História da Humanidade. E Dizer que Deus é o mais íntimo da minha interioridade, como afirma S. Agostinho, é afirmar a verdade no seu estado mais puro.
Esquecer a riqueza que os Padres da Igreja têm para oferecer ainda hoje é esquecer, de certo modo, a mensagem e a Verdade fundamental que Jesus veio trazer.
A vida monástica, à qual estiveram vinculados muitos destes Padres, tenta ser a continuação da alegria da primeira hora em que Jesus ressuscitou e se manifestou aos discípulos. Para os monges, como para os outros Cristãos, nada haveria de ser mais caro neste mundo que a sua vida centrada em Deus, pois só assim é possivel vivermos a verdadeira PAZ, construindo a Cidade de Deus no agora da nossa existência.
UT IN OMNIBUS GLORIFICETUR DEUS
(para que em tudo Deus seja glorificado)
S. Bento - Pai dos monges do Ocidente
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