PAX
A vida monástica de tradição beneditina, no seguimento, aliás, de toda a tradição oriental, tem como dimensão fundamental a oração. É com a oração que o monge beneditino começa o seu dia - na oração de Laudes (que significa louvor) - juntando a sua voz à voz de todos os cristãos espalhados pelo mundo. A oração, num mosteiro beneditino, é a verdadeira dinamizadora das relações fraternas - por referência a um PAI comum - e o alimento que nos impele a dar testemunho de Jesus Cristo.
Para além de orar em comunidade, no coro da igreja monástica, várias vezes durante o dia, os monges oram também no silêncio das suas celas (células ou quartos). A Lectio Divina (ou leitura orante da Palavra de Deus) diária é o momento em que, cada um, na sua mais profunda pessoalidade e individualidade (não confundir com individualismo) se coloca na atitude de escuta: de Deus e dos sinais dos tempos que se traduzem numa atenção constante a tudo o que diz respeito ao nosso mundo.
Mosteiro significa: casa dos solitários (monachos em grego - monge em português - quer dizer solitário, indiviso). O monge beneditino é, então, um solitário que vive na companhia de outros solitários. O monge é solitário porque não é esposo, ou seja, não se complementa por meio do casamento. Deste modo, o monge procura complementar-se na vida fraterna, na oração e no trabalho; dimensões onde Cristo também se faz presente. Ao longo do dia os irmãos têm a oportunidade para estarem a sós consigo próprios, quer quando trabalham, quer quando estudam. Procura-se um equilíbrio, necessário para a saúde mental e física de todos.
O silêncio é outro aspecto da vida monástica que tem uma importância vital. É no silêncio que buscamos Deus e ouvimos os outros: quem conhece bem o outro não necessita de muitas palavras; a experiência diz-nos que nos mosteiros onde não se consegue guardar silêncio, isto significa que as pessoas se conhecem mal umas às outras; necessitam de estar sempre a chamar a atenção para si próprias e por isso tornam-se ruidosas e superficiais. É evidente que não é só nos mosteiros que isto acontece; todos sabemos que, muitas vezes, as palavras, ou atrapalham, ou não chegam para exprimir o que verdadeiramente sentimos; o silêncio transforma-se, então, a única via de entendimento e comunicação.
A estabilidade é igualmente necessária para todos os monges. Em primeiro lugar, a estabilidade emocional ou psicológica; depois, a estabilidade física (num determinado espaço). A primeira é a mais importante e exige um grande cuidado. É muito comum haver, nas sociedades actuais, pessoas que não têm um norte, andam perdidas; estas pessoas necessitam de ajuda e, muitas vezes, não a têm. Algumas pensam que a solução é entrar numa comunidade religiosa ou mosteiro, onde eventualmente -pensam- já não sofreriam como no meio onde vivem. Isto é um erro, evidentemente. Nunca se entra num mosteiro pelo motivo de se estar decepcionado com a vida. Seria nocivo para o próprio e para a comunidade que o receber. Várias comunidades se extinguiram precisamente pela falta de vocação de muitos dos seus membros, ao mesmo tempo que alguns entraram em depressão, de que dificilmente recuperaram.
Por isso, é fundamental discernir, ver dentro de si as razões para a escolha deste caminho e não de outro. É importante ser sábio: o sábio é alguém que abraça a paciência e a humildade. Confrontado com dois caminhos não se lança irreflectidamente num deles; pensa, avalia e, depois de certo tempo, decide.
A estabilidade num determinado local e numa comunidade concreta ajuda ao discernimento e a viver sem stress, ao mesmo tempo que se realiza o ideal evangélico da vida em comum (koinonia) tal como os primeiros cristãos.
Oração, silêncio, estabilidade; eis três pilares fundamentais na construção de uma comunidade monástica. Se algum deles estiver a ser negligenciado, a longo prazo todo o edifício se desmorona. Estejamos atentos!
UIOGD